No fim do ano passado, fui convidada para um desafio na CONTIGO!. Ser uma espécie de enviada especial das leitoras e dos leitores à intimidade das pesonalidades. Mas nunca imaginei que, logo de cara, acabaria na academia particular de William Bonner! Ele de chinelão e eu de vestido vermelho (escolhi a cor da revista). Acreditam? Pois é. O editor-chefe e apresentador do Jornal Nacional admite que odeia dar entrevista e, em mais de uma década no cargo, só concedeu uma, no ano passado, para Marília Gabriela, 52 - fez questão de ressaltar isso. Mas topou, enfim, estrear comigo a coluna Aline Repórter - que ganhou esse logotipo de presente do publicitário Washington Olivetto, 58.

Bonner, 47, me recebeu no meio de suas férias, em sua casa na Barra da Tijuca, na manhã de quinta-feira (6). Duas horas e quarenta e cinco minutos juntos. Um Bonner informal, bem-humorado, capaz de contar que tem o hábito de lavar as próprias cuecas quando viaja ou surpreender com a revelação de que, às vezes, a pressão é tanta que tem vontade de deixar o JN. Aqui, você vai conhecer comigo um Bonner que a TV não mostra. Cheguei à casa dele com o fotógrafo e sua assistente às 9h40, 20 minutos antes do combinado. Esperamos na sala - repleta de fotos da família e momentos de Bonner e da mulher, Fátima Bernardes, 48, no trabalho (ele em Roma, na morte do papa João Paulo II, em 2005, ou ela na cobertura da reeleição de George W. Bush, em 2004, nos Estados Unidos).

Fátima passou rapidinho, elogiou meu look (adorei!) e avisou que ia pegar 30 minutinhos de sol. Às 10h06, Bonner chegou: ''Eu me atrasei muito? Desculpe-me''. Estava tensa. Mas com essas e outras fui ficando calma. Quando dei por mim, estávamos sentados num cantinho da sala, ele com a perna em cima do braço do sofá, eu gargalhando de alguma declaração dele. A ideia era bater papo na varanda, mas ficamos na sala porque estava muito calor. Bonner odeia transpirar demais. Mas não perde a linha, sabe? Contou que antigamente ia trabalhar de qualquer jeito, mas agora vai de terno, menos o paletó, que coloca só na hora de apresentar o jornal.

''Passei a ser mais vaidoso recentemente. Até muito pouco tempo, ia trabalhar de camiseta, jeans, tênis. Agora, vou arrumadinho, de terno e sapato. Foi um estalo. Fátima está sempre superarrumada e, às vezes, surgia uma oportunidade para jantar. E eu todo largado... Fora que passei a enxergar uma coisa meio ridícula: recebia a visita de alguma autoridade daquele jeito. Não ficava bem. Comprei umas camisas americanas que não amarrotam e fico o dia todo com a mesma. Também comecei a ver que não fazer a barba para ir trabalhar era estranho. Até nas férias, eu faço a barba, senão acho que fico abatido, com cara de bêbado'', disse, sempre autocrítico. Esse papo de vaidade começou quando Bonner passou a falar das dores na coluna. Ele disse logo que achava que era coisa da idade, fazendo piada de si mesmo.

''A idade é uma m... Não me sinto velho, mas com 47 você sente uma diferença. Quando engorda, como engordei nessas duas últimas semanas de festas de fim de ano, engorda muito rápido e, para emagrecer, não é tão rápido assim. Engordei loucamente. Quanto? Dois quilos'',  disse, incomodado de verdade. Ele é normal? ''Sou normal como todo mundo pode parecer. Até você olhar bem de perto e saber as maluquices.''

Agora, sabe uma coisa que me chamou a atenção mesmo? Os cabelos brancos. Bonner está bem grisalho. ''Não, não gosto dos meus cabelos brancos, não acho charme, é só sinal de que a idade chegou. E, em 2010, o branco avançou muito. Tinha um pouco, mas agora deu uma tingida boa. O meu pai tem 80 anos e é grisalhão. Devo seguir o mesmo caminho porque, na minha idade, ele era assim. Acredito que não vou ficar careca. Já tive uns buracos, alopécia, mas me atribuíram à questão da tensão emocional'' contou o jornalista, que no entanto, não se acha estressado. ''Trabalho com tanta gente ansiosa que acho que, no meu meio, sou o menos ansioso. Quando faço atividade física, as endorfinas me equilibram perfeitamente. Não preciso tomar remédio para aliviar a ansiedade, nunca tomei. E durmo muito bem. Hoje dormi sete horas'', contou.

O papo descontraiu mesmo quando Bonner começou a falar do jeito de ele ser chefe. Você imagina o cara do JN imitando Lula no meio da redação? E dando um sustinho em algum repórter? Ou inventando piada? ''Sou muito brincalhão. Brinco mesmo. Sou muito, muito palhaço. Sou capaz de explicar as reportagens que a gente vai fazer de uma maneira absolutamente maluca, cheia de ironias. Clodovil não imito há muitos anos, mas imito muita gente o tempo inteiro. Imito muito o Lula. Se tem uma reportagem sobre Lula no Jornal Nacional e vou explicar o que espero, é 'pule de 10' que vou imitar Lula. É o Lula explicando. Eu imito todo mundo, imito repórteres, entrevistados, celebridades. Outra forma de eu fazer brincadeira é dar sustos. Me xingam pra caramba. Sou moleque'', admitiu. ''Também conto piada. Às vezes, como se fosse verdade. Sou assim o tempo todo, sei fazer isso. Quando vou comprar qualquer coisa, mesmo que custe 3 reais, eu digo: 'Que aburdo!' Eu adoro fazer isso.'' Cínico, né? ''É'', admitiu ele.

De repente, o celular de Bonner tocou um alarme e ele chamou o caseiro que estava passando na sala. ''Vinícius está acordado? Ele tem de cortar o cabelo às 11 h''. Todos os seus compromissos estão anotados em sua agenda no celular, não só os profissionais. E ele fica ligado nos mínimos detalhes. Disse que está dando atenção especial ao menino. ''Eles entraram na adolescência e esse é um momento em que quero estar mais perto de Vinícius. É um menino, o pai tem de estar por perto. Esta semana fui ao cinema com ele para ver 72 Horas, que achei um thriller bem interessante. E vimos juntos Tropa de Elite 2, que já tinha assistido com Fátima.''

Eu reparei que Bonner estava usando um anel que parecia aliança e ele disse que era só porque o filho está usando um igual. Para dar um apoio. Foi Fátima quem sugeriu. ''Somos muito diferentes (ele e a mulher). Completamente. Nas formas de a gente ver as coisas, de lidar com tudo. É quase um milagre a gente estar há tanto tempo juntos. Mas é curioso que algo assim tenha surgido entre duas pessoas tão diferentes. É amor? É.''

O casal faz 21 anos de casados em fevereiro. E se divertem com as críticas sobre o trabalho a dois. ''Tem um site chamado nãoentendo.com.br que faz montagem com uns frames meus e dela e simulam diálogos em que ela sempre me dá um fora, acho engraçado'', reconheceu. ''Fátima e eu temos divergências, ganho algumas, ela outras. No trabalho, tomo a decisão final, mas ela é editora-executiva, palpita. Hoje, para ser sincero, não conversamos muito sobre trabalho em casa. Falamos das crianças e planejamos férias'', disse.

Ah, sim, férias! Bonner iria viajar no dia seguinte. E me contou uma coisa que não sai da minha cabeça. Quem podia esperar que o editor do JN lavasse as próprias cuecas? ''Vou viajar amanhã e, como são seis noites, vou levar três cuecas. Faço sempre assim, levo a metade da quantidade de dias porque vou lavar. Sempre lavo. Você vai tomar banho, lava a cueca. Tem ar condicionado, arejamento no banheiro. Mesmo que o seu quarto seja ruim e levar dois dias para secar, você vai ter cueca limpa para todos os dias'', disse falando sério. ''Mas em casa não faço isso, só quando viajo.''

Mas será que é possível o editor do Jornal Nacional tirar férias, se desligar por completo? ''Tenho um combinado que nas férias ninguém liga pra mim a trabalho. Mas não dá para combinar de não receber e-mail. Outro dia, recebi o relatório de um repórter sobre o estado de saúde do ex-vice-presidente (José de Alencar). Não queria saber. Não assisto ao Jornal Nacional todos os dias quando estou de férias. Se não, não descanso. O Jornal Nacional não é uma fonte de notícia para mim, ele é o meu trabalho. Leio os jornais no papel e pela internet. Mas nem isso faço muito'', garantiu. E vocês precisavam ver a frustração ao revelar que os filhos não veem o JN. ''Lamentável, mas meus filhos só assistem ao Jornal Nacional de vez em quando. Não precisam ver se não quiserem, mas têm de ganhar o hábito de ler jornais, ainda não conquistaram isso. Pode ser o 'bode' de saberem que a gente é jornalista'', admitiu.

Agora, o que mais me chocou mesmo foi ele dizer que já teve vontade de sair do JN. Na maior  naturalidade, sem drama. ''Já tive vontade, sim. Quando a pressão é grande, dá vontade. Ano passado, eu queria ser chef de cozinha (risos). Porque o nível de paixão a que chegaram alguns eleitores e filiados a partidos políticos foi algo que não via igual desde 1989. E isso num período de redes sociais. Fizeram campanha contra a mídia, e eu sou mídia. Deu vontade de parar, não quero passar por isso de novo. Mas olhe, depois de um ano diabólico como o que tive, no meu terceiro dia de férias acho que não é o melhor momento para falar disso. Estou muito cansado. Vou dizer que era melhor largar isso e trabalhar num banco'',
brincou, ressaltando que tem contrato até 2015, provavelmente a ser renovado até 2017 nos próximos meses. ''Meu ortopedista diz que é cada dia com sua agonia. Penso em alternativas para o futuro, mas não para agora. Eu gosto de escrever, o que pode acontecer é isso quando eu deixar de fazer o JN'', avisou.

E sabe uma outra coisa que reparei? Quatro carros na garagem. ''Não gosto de gastar meu dinheiro em carro, mas gasto (risos). Esse ano fiz a loucura de comprar um segundo carro para mim, o outro é da Fátima e um para as crianças usarem durante o dia. Tem um que ainda não é meu, estou pagando leasing'',contou.

E Bonner, o ''tio do Twitter'', como se autodenomina na rede social, não podia deixar de tuitar. ''Vou provocar.'' Postou: ''Fazendo o que mais odeio'', e imediatamente chegaram os comentários de seus seguidores - hoje, mais de 1 milhão. Bonner morreu de rir, foi lendo cada um, não queria mais largar aquilo. E continuou: ''Dando entrevista''. ''Twitter, para mim, é um parque de diversões. É quase uma ferramenta de relações-públicas direta, como quero que o público me veja e o que quero que o público saiba de mim. Eu tenho o controle, não é a CGCOM (Central Globo de Comunicação)''.

Ah, um aviso aos tuiteiros: Bonner não assiste a Passione. ''Não tenho tempo de ser noveleiro. Brinquei um dia, mas nem sabia do que se tratava. E todo mundo achou que eu acompanhava a novela.''

Fizemos as fotos juntos, tímidos, mas sorrindo. E, no fim, ele nos levou à porta, fechando nosso dia com chave de ouro.